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A pintura com tinta óleo e acrílica me permitiu explorar texturas e volumes inétidos para mim, e me acompanha desde o meu primeiro ateliê. Inicialmente eu pintava a partir de imagens figurativas, mas aos poucos o gestual enérgico das pinceladas me encantou para além das representações verossímeis. Passei a admirar os cantos mais matéricos e abstratos das composições, e aos poucos um fenômeno de processo passou a ocorrer: Enquanto eu fazia uma tela, em outra eu limpava o pincel com excesso de tinta, formando assim, uma pintura lateral, que partilhava das mesmas cores da , digamos, tela mãe. Era no entanto, outra totalmente diferente, quanto a tratamento plástico e natureza. Ainda assim, claramente familiares uma da outra.
A pintura foi um desdobramento do desenho, uma midia que me permitiu elaborar composições, entender sobre forma e contra forma, o uso do vazio, entre muitas lições. Uma forma de fazer anotações visuais do mundo, adicionando notas de roda pé escalafobéticas.
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Bordado
As pinturas de linha nasceram quando dei atenção a uma pulga atrás da minha orelha. Comprei linha, agulha e algodão e me pus a experimentar essa materialidade desconhecida. Desde nova fui intima do pincel e da tinta, quando se falava sobre criar. Quando eu me sentava para uma pausa depois do dia de ateliê, os dedos buscavam se ocupar, ansiosos. Tentei enganar minhas mãos e meus olhos, evitar o entorpecimento do feed infinito, e comecei a bordar.
Experiência normalmente noturna, esse fazer costurava as imagens da televisão ligada, as vozes do meu companheiro ou outros, em momento de recolhimento. Bordar se tornou uma forma limpa e enxuta de continuar criando, mesmo em lugares de passagem. Na casa de um amigo, assistindo uma aula, ou me deslocando de ônibus sentia a necessidade de ter algo na mãos e de preencher essas pausas.
No ato de bordar, existem coisas concretas. A linha mergulha e irrompe da trama, num movimento de laçar infinito. Uma amarração. Nessa costura arremato cenas, contorno ideias, repuxo memórias do dia e essas ficam marcadas nos panos. Manifesto uma reta fluida no tecido e, ao observar essa nova composição, decido o próximo mergulho. É um movimento de diálogo, ou até, flerte. Assisto o movimento da linha e aguardo a correspondência ou não a minha proposta de narrativa. Reconheço naquela forma abstrata um lugar que fui, um movimento que faço, uma parte do corpo. Muitas vezes a forma se apresenta com muito mistério, e o trabalho continua a me gerar faiscas enquanto escuto suas falas da parede, até um dia que identifico o que criei, só depois de ter vivido muitas outras coisas, pois as vezes o que faço não aconteceu ainda. Nessa hora a pintura de linha se finda, com o ultimo nó no verso eu decifro a mensagem escondida de mim para mim mesma.